quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

De volta ao paraíso

Voltar é viver. As recordações transformam-se em realidade, estão mesmo ali à frente dos meus olhos. É claro que causa estranheza, parece que qualquer razão é pretexto para não estar satisfeito com o que tenho, com essa realidade distorcida pelo tempo que agora faz parte do meu regresso. Mas o pior já passou.
-Lembro-me como se fosse ontem do dia em que apanhei o autocarro, e esperei no aeroporto horas a fio, mas só porque quis,
Sozinho outra vez. É altura de criar as minhas próprias recordações. Arregaçar mangas e começar a lutar.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Ainda me lembro da carta que te prometi, enquanto olhava para o vidro e via o cenário mover-se. Podia dizer que escrevi. Encaixava. Duas páginas não chegavam para o que queria dizer. Mais uma vez não acabei e o cenário mudou.
Hoje, já não posso fazê-lo, perderia o sentido que teve. Talvez me fizesse esquecer. Talvez me esclarecesse. A verdade é que nem quero entender, não é suposto. Não te vou pôr em nenhuma fórmula ou esquema. Já tiveste o teu lugar.
Ficaram os textos e saudade.

terça-feira, 24 de julho de 2012

De manhã cedo, sentado num balde de plástico na parte de traz de uma carrinha, balde que deslizava sempre que o condutor fazia uma travagem, para ir eu bater com a cabeça no monte de vassouras que tinha por cima da cabeça. O cheiro aos detergentes enjoa. Os aspiradores e esfregonas não estão bem amarrados. Ela sofria de violência doméstica. O quê? Já não bastava o trabalho ser mau, a vontade ser pouca e o calor se começar a sentir, como também os assuntos de conversa tinham de ser deprimentes.
Concordas comigo não concordas? - 
Claro, mas é assim mesmo, as gerações são completamente diferentes, assim como o ambiente em que se vive agora. -
Ruivas. Será que ela é nova? Parece que não. Devia fumar menos, mas acho que o universo tem que equilibrar sempre as coisas infelizmente. Tenho de parar de supor.
Gostava de saber se ainda te lembras de mim. Não num sentido abstracto, porque conheces-me, claro que te lembrarás, mas num sentido mais concreto. Em momentos do teu dia, ou durante algo que estejas a fazer. Estou a ser parvo.
Espero que consigas dar o valor devido às coisas. Nem sabes a sorte que tens. Soa a frase feita, mas é mesmo com intenção. Tens um lugar junto das pessoas que te querem bem, tens muito a perder. Não vais ficar fora das estantes com fotografias, nem vais ficar de fora das celebrações parvas onde ninguém se entende - vinho a mais e champanhe doce. Os abraços e beijos não te vão faltar, até os que dispensavas. Não te imagine a abraçar indivíduos com fraca higiene pessoal, mas quando é demais cansa. É como tudo.
Eu não tenho nada. Tenho as minhas linhas vazias. Essas não as perco nunca, infelizmente. Gostava de as preencher com grandes histórias, ou até inspirados pensamentos sobre assuntos intelectualmente estimulantes. Quem sabe, até alguns sentimentos que insistiram em tomar forma. Reconheço que vou continuar a tentar, frustrado, sem conseguir. 
Quem sabe. Numa outra madrugada as coisas sejam diferentes.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Ociosidades 1

Hoje ia escrever três trabalhos, só porque sim. Bebi três copos de vinho ao jantar, já só me apetece argumentar com alguém acerca de como ele próprio é um monte de estrume, com um invólucro bastante requintado.
Será, talvez, uma boa altura para fingir que não aprendi nada, talvez passe por burro, não de carga porque sou levezinho já a minha avó dizia a olhar para os meus dedos
-Tens dedos de enfermeiro!
E eu a escrever comédia, ou melhor, a fazer de conta que escrevia comédia, mas as crianças são assim.
Cenouras sim, quem sabe, mas para um burro como eu não serve qualquer coisa. Infelizmente representação não é o meu forte e é me difícil trabalhar quando a personagem que mal ou bem represento é um primo do cavalo, que por sinal é mais pequeno (coincidências) e idiota além de menos bem parecido. Mas há muitos burros representativos, saí há dois minutos e não calquei nenhum bocado de merda, eles só representam até certo nível. Pelo menos são coerentes, já eu não sei o que estou a fazer. Mas o tempo passa e tenho saudades do meu gato, que só sabia andar à porrada às tantas da manhã, melhor agenda que a dele não havia, noites de céu limpo e lua e cheia gatas em todo lado e machos desafiantes e leite a rematar no final. Eu sento-me e levanto-me, nem sequer passo por burro, acho que lhes é impossível fazer tal coisa. Mas eles aí andam no campo eu é que não gosto de erva.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A noite passada sonhei que era outra pessoa, completamente diferente, num corpo diferente, numa personalidade diferente, num sítio diferente, numa altura diferente, com pessoas diferentes. Contudo, eram pessoas que eu, como eu próprio, tenho plena noção da sua existência. Conheço-as. Mal bem não interessa.
- Sempre a mesma conversa -
Desta vez foi me fácil relembrar tudo, quase ao pormenor. Os sonhos normalmente perdem-se na memória do sono, é sempre nevoeiro quando acordamos. Lá fora as árvores mortas servem de estaleiro para os corvos virem gozar comigo. Pudera, até no sonho o facto de ser uma pessoa ridícula se manteve bem evidente, como se mo tivessem escrito na testa, como se estivesse estampado na minha cara.
- Esfrega aí um bocado com a tua mão, a ver se sai, anda lá!-
- Não me parece -
Apaixonei-me no sonho. É absurdo, para não dizer pior. Porque não posso, nunca pude. Este não sou eu, porque raio me sinto assim? 
Talvez seja por ter demasiado tempo livre, nada na cabeça. Não. As pessoas gostam de fingir que as músicas que ouvem são sempre sobre elas próprias.
É por estar de fora. As coisas repetem-se. A fita acaba e tem que se puxar para trás para começar uma e outra vez até acabar de novo. A cadeira de madeira onde-me sento, corta-me a circulação nas pernas. Problema é não conseguir caminhar apesar de ver tudo muito melhor. Preciso que me levantem.
- Merda, não tenho paciência para te aturar -
Acordei, e não me esqueci.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Começam a aparecer as saudades convidadas talvez o culpado fui sempre eu. Não são saudades formais se é que haverá forma de as categorizar desta maneira. É alguma coisa mais próxima de amor - se é que me é possível conceptualizar amor - do que outra coisa. O culpado fui sempre eu e sempre eu vou continuar a ser porque as saudades não são formais eu é que visto o meu smoking emocional quando alguém se aproxima. Não sei porquê os meus smokings terão de ser sempre à medida o que por si só dificulta e atrasa toda a sua preparação ou seja não tem sentido na medida em que optaria por um caminho mais fácil como a fragilidade. Fragilidades que fisicamente não demoram em manifestar-se mas emocionalmente já se manifestaram há algum tempo deixando ficar as marcas por onde passaram - se parecer aceitável pensar numa regeneração emocional. Bem gostava que as lágrimas que produzo industrialmente tivessem algum propósito que não o apenas de dar trabalho a glândulas por isso nem me incomodo a começar a produzir - se é que alguma vez alguma coisa o mereceu. Gostava que me abraçasses se é que sabes o que abraçar - mas não me dissesses nada. O teu cabelo dar-me-ia todos os esclarecimentos que eu precisava. A seguir dava-te um beijo nos lábios se é que sei onde os encontrar devido à cegueira que me afecta emocionalmente.
- E o teu cabelo - 
Um beijo descomprometido de formalidades como técnicas alternativas para amplificação de prazer porque sem significado não há catalisador que nos valha - dizes tu com as mãos nas tuas ancas.
Fazes tudo conheces todos sabes tudo mas nada te vale quando também tropeças e acabas num sítio azul sabes que é aí que estou sempre.
- Dava tudo para te poder ver sorrir -
"When you get blue/And you've lost all your dreams/There's nothin' like a campfire/And a can of beans" Tom Waits

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Limpei o pó dos óculos, bebi um copo de água e voltei a escrever.
Gosto de imaginar que estou a falar para alguém, um cérebro talvez, um gémeo também podia ser, nunca alguém em particular, apesar de já ter acontecido, mas quem é que me diz que tenho de ser coerente? Nada. Ninguém? Talvez eu mesmo.
-coerência hoje não-
Está resolvido o problema.
Uma restrição que apenas eu poderia por a mim mesmo, assim está fora de consideração. É como desfragmentar o disco rígido, arrumar tudo no seu lugar e rentabilizar o espaço livre. Ficar com uma melhor performance a nível de restrições psicológicas, reduzindo-as pela própria vontade.
Mas isto é numa outra dimensão da consciência. Não que eu de alguma forma esteja a dizer que sou capaz de mais ou melhor que qualquer outra pessoa, muito pelo contrário. Acho que qualquer pessoa que não perca tempo com outras dimensões da consciência, estará bem melhor consigo própria e consciente da dimensão que realmente interessa.

domingo, 24 de abril de 2011

Pois que assim é. Vento frio e dormência semanal dão cabo da saúde, engraçado que nem teria apanhado constipação nenhuma se a higiene da realeza fosse imaculada, esguichos de gel alcoólico ou simplesmente juízo bastavam.
Talvez mereça, é o meu castigo por não sair do mesmo, a verdade é que "silly season" não é apenas agora, tem sido e será enquanto os houver mais os mercedes e a depilação em 'v'. Já não arranjo t-shirts. Infelizmente? Isso depende da perspectiva, não que esteja ciente de uma multidão ansiosa por me ver em tronco nu, por outro lado imagino que para a grande maioria seja fácil encontrar algo suficientemente ejectável. Chamem-me dinossauro se quiserem, até pode ser que pense sobre isso.
Posso dizer que confirmo há pessoal que é mesmo uma farsa social. Desapontado podia ficar o meu avô, eu não, que tenho outras preocupações como procurar as t-shirts em 'u' e não em 'v'. Não querendo estar aqui a ofender ninguém com tão tremenda acusação, tentarei redimir-me rebolando pelas silvas ali do mato ainda na próxima semana se tiver tempo livre, entre as longas procuras na secção do vestuário masculino.
Entretanto o meu avô continua com o cabelo preto, como se tivesse idade para isso, bem como me continua a chamar avançado-centro como se eu alguma vez o tivesse sido. Nada que importe, mas são coisas que intrigam e a intriga é o que mantém o interesse. Não me façam começar, é como se pensassem que eu fosse alguém que não é preguiçoso. Percebe-se bem pelas meias ideias e frases, atropeladas por pensamentos espontâneos como o gelado de caramelo que me fodeu a garganta. Mas o meu gato vai bem, tornou-se um ecossistema ainda mais complexo, já eu não albergo nada, apenas pensamentos incoerentes e sentimentos desmesurados. Acho que vou pôr agora um capacete.